Tempo de Solidão

"Tempo de solidão, tempo de exílio."

segunda-feira, novembro 29, 2004

Whisper of a Thrill


sexta-feira, novembro 26, 2004

Nada há de nobre na solidão

De um modo geral, acho que tenho sorte em relação aos meus amigos. São, na sua maioria, pessoas muito inteligentes e plenas de sentido de humor, pessoas cujas falhas estou mais que disposto a perdoar em troca dos bons momentos que passamos juntos. Dadas as circunstâncias, são realmente as melhores pessoas que eu poderia vir a conhecer.

No entanto, não me consigo sentir bem a seu lado. Sinto que somos muito diferentes, mas por outro lado tenho medo de levar esse raciocínio até às últimas consequências. Tenho receio de me começar a considerar um ser diferente e, portanto, superior. Sabe Deus que nada está mais longe da verdade, mas sou muito fraco de espírito e posso nem sempre resistir à tentação de justificar a minha solidão com a minha falsa superioridade. De resto, tenho medo de descobrir que afinal nem há assim tanto que me une aos meus conhecidos. Tenho medo de descobrir que não vale a pena continuar a tentar encontrar o meu nicho social.

No entanto, parece que é isso que devo fazer. Torna-se cada vez mais óbvio que não há muitas pessoas que me compreendem ou conseguem ver para além dos meus gestos dissimulados e emoções reprimidas. Ocasionalmente, há uma menção ou uma palavra curiosa, mas ela logo tomba no silêncio. Se fazem reparos à minha mágoa nos poucos dias em que não a consigo esconder é por mera educação. Sim, sim, noblesse oblige. Obrigado por nada.

Agora que penso nisso, também converso pouco com eles. Sim, há muitos monólogos dialogados, mas nada mais.

E depois penso, o problema deve ser meu. Conheço pessoas tão simpáticas, bondosas e interessantes, porque não me consigo sentir confortável com o seu convívio? A culpa deve ser minha, estou certo.

Nem sei muito bem porque estou a escrever tudo isto. Provavelmente porque ontem eles conseguiram-me arrastar para mais uma noite de farra e paródia. A sua companhia era leve, e mesmo a longa noitada de agitação foi invulgarmente agradável. No entanto, algo não batia certo. Estava com eles, mas sem estar. Muito provavelmente devo ter parecido muito alegre. É sempre assim. Todavia, nenhum deles conseguiu ver que eu estava apenas a testar-me e a testá-los. Que eu queria perceber o que me prendia à convicção de que valia a pena fingir que estava bem a seu lado. E ninguém percebia que os meus pensamentos e emoções mais profundas estavam noutro sítio qualquer, muito longe dali. Ninguém percebeu que a única razão pela qual eu estava ali era apenas porque eu sinto a necessidade de combater a toda a hora o medo de ficar sozinho e acabar os meus tristes dias numa tão negra e inglória reclusão.

Que dilema. Odeio sentir-me envolto no frio manto da solidão, mas não consigo encontrar repouso e tranquilidade na companhia daqueles que mais estimo. Já nem sequer consigo fingi-lo.

terça-feira, novembro 23, 2004

Eternidade

Hoje tirei o dia para mim e para os meus pensamentos. Vagueei sem destino, percorri velhas ruas conhecidas, atirei umas pedras ao rio. Estava frio, de manhãzinha, o que adorei. Precisava de uma pequena pausa pois sentia a necessidade de dedicar alguns momentos a mim próprio. Por causa de tudo o que se tem passado nos últimos dias, tinha a esperança de me conseguir apaziguar um pouco, de me acalmar. Costuma ser assim que me tento consolar ou combater a solidão. Com mais solidão. Por vezes resulta, e eu encontro as palavras ou as decisões de pensamento que me aliviam o espírito e me oferecem um caminho.

Pois bem, hoje não funcionou muito bem. Já faz muito tempo que toda esta confusão começou, tanto, tanto tempo... Já não tenho palavras para mim próprio. Já não sei sorrir de mim mesmo e esperar por um futuro melhor.

Suspirei, sustive as minhas lágrimas e voltei a suspirar. Senti-me ridículo, no entanto. Será que não conheço outra coisa na minha vida que não esta estranha existência de obsessão e desejo? Mas porque só saberei desejar a única coisa que não posso possuir?

Mais suspiros, envoltos em silêncio. O pior de tudo é que hoje era suposto ser um dia feliz. Para ela, pelo menos. Logo, para mim também. Mas não é assim que o coração pensa, por muito que eu insista em cegar-me com lindas frases proclamatórias. Amo-a. Desejo-a, anseio por ela. E nada menos me contentará.

De qualquer modo, este é um dia feliz. Tem de ser. Não interessa o que eu sinto.


quinta-feira, novembro 18, 2004

A seu lado

- apagado a 29/12 -

Doravante

Caros amigos e amigas, desculpem-me por não ter aparecido por cá nestes últimos dias. Bem sei que a ausência não é assim tão grande, e que só a muito custo se pode considerar que escrevo coisas que mereçam realmente o vosso tempo, mas sinto-me no dever de pedir desculpas. Sem dúvida porque prezo muito as vossas presenças e visitas, e entristeço-me ao pensar que podem vir a aceder ao meu pobre cantinho e de apenas encontrarem palavras batidas de dias atrasados. Merecem mais.

Esta tem sido uma semana difícil, em muitos sentidos. O trabalho começa mesmo a afogar a solidão, o que não é nada bom. Não tenho nada com que a substituir. No entanto, e agora que já consegui retomar acesso à internet, tentarei fazer um esforço sincero por participar neste cantinho com mais assiduidade. Só assim não será quando o meu tempo de exílio terminar, e eu não contaria com isso tão cedo.

Infelizmente.

quinta-feira, novembro 11, 2004

Pára.

Pára por favor. Não quero ouvir isso.

Não me fales assim, imploro-te. Não sabes o que dizes, o que sinto. Não sabes nada. Eu não sou aquele que pensas.

Não, por favor, não... Eu não mereço essas palavras, não dessa maneira, não por essa intenção... Tu não sabes, ainda não conseguiste ver.

...por favor...

Mas pára, deixa isso! Não digas essas coisas! Não percebes que me magoas!!?

Deixa-me em paz...

(Amo-te)

terça-feira, novembro 09, 2004

Als das kind kind war


"Quando a criança era criança
Era tempo para estas perguntas:
Porque sou eu eu e não tu?
Porque estou aqui, e não ali?
Quando começou o tempo, e onde termina o espaço?
Não será a vida sob o sol apenas um sonho?
Não será aquilo que eu vejo, oiço e cheiro
apenas a ilusão de um mundo anterior ao mundo?
O mal existe realmente,
e há pessoas que são realmente más?

Como pode ser que eu, que sou eu,
não existisse antes de me tornar eu
e que um dia
aquele que sou eu
vá deixar de ser aquele que eu sou?"



Ontem revi "As Asas do Desejo", o maior dos filmes de Wim Wenders. Vê-lo é uma experiência que nunca se repete. Foi também a primeira vez que consegui desligar as legendas e deixar-me invadir pela interpretação atenta do liricismo emprestado de Peter Handke.

Senti o filme de forma mais autêntica, menos mediada. Certo será que ainda não domino a língua tão bem como gostaria e que alguns minúsculos sentidos poéticos ainda me escaparão. Nem interessa muito. Tenho as palavras dos anjos tão gravadas na minha memória que as poderia transcrever a qualquer altura, e a Canção da Infância é um dos poemas que recordo diariamente.

A beleza deste filme não é descritível. Há algo de muito comovente em todos aqueles anjos trágicos e nobres, pequeninas testemunhas de um Deus que criou um mundo e depois precisou de alguém que o presenciasse, venerasse, mas achou-se sem ninguém. Acompanham-me as frias ruas de Berlim, palpitantes de emoções abafadas e pensamentos envergonhados, o desejo de sentir mais, sempre mais, de viver e escutar o batimento de um coração apaixonado. Esfumam-se os cinzentos da eternidade e a percepção garrida dos que caíram e acordaram para o mundo, a busca pelo amor que faz até um ser imortal abandonar tudo e haurir uma eternidade.

Podia falar desta obra o dia inteiro. Se não o conhecem e não têm medo de se perder em doces devaneios existenciais, vão vê-lo, vão vê-lo já.