Tempo de Solidão

"Tempo de solidão, tempo de exílio."

terça-feira, junho 20, 2006

Todas as manhãs do mundo

Tudo o que eu tenho de fazer é subir aquelas escadas.

De seguida, aproximo-me e dirijo-lhe a palavra, munido de certa razão imaginada. Um plano, um pretexto, não me interessa muito. Mas claro que há fundamento, vontade de ajudar. Nem no impulso consigo ser verdadeiramente irracional.

Credo, estou tão nervoso, nem acredito que as minhas mãos tremem tanto... Ela vai perceber... Já percebeu. Um sorriso envergonhado.. não.. ela é assim mesmo... um embaraço que não é mais do que recato. É o seu encanto. Como adoro o seu sorriso, sempre tão escondido e dissimulado e no entanto simplesmente tão genuíno e feliz. Linda, brilhante.

E não estou preocupado que ela me leia como um livro aberto; a solidão não existe neste momento. É a última coisa que me assola à medida que percorro o caminho de volta, em passo incerto e apressado, de coração e mente cheios. Começo a pensar como fui desajeitado, ridículo, inusitado, mesmo. Suponho que no fundo tudo não terá passado de mais um epísódio tão meu como as coisas que detesto em mim. Aposto que se me esforçar conseguirei odiar os meus actos e encontrar riquíssimas falhas nos meus comportamentos.

Volto a pensar como consigo ser tão desajeitado. Mas só consigo sorrir.

É que, não sendo mais nada, foi um começo.

quarta-feira, junho 14, 2006

Arquitectura de um regresso

Mencionar um regresso não será a noção mais adequada; não acredito que alguma vez tenha deixado esta solidão para trás. Nem creio que isso seja possível em absoluto, uma vez que mesmo envolto nas mais eficazes fugas ou, idealmente, em névoas verdadeiras de felicidade, persiste sempre um vazio no nosso espírito. Se é colmatado, aceite, se é afastado ou não por uma palavra amiga, por uma carícia, por companhia, isso é o que determinará a amplitude da mágoa. Mas ela está sempre lá, creio...

Sinto-me uma pessoa nova com sentimentos antigos. Ler o que escrevi apenas é estranho por um momento, depois recordo-me do que era e do que ainda sou. Certas passagens fazem-me desejar mudar de registo, outras incendeiam uma estranha vontade de me contrariar a todo o instante, como se me recusasse a aceitar que aquele era mesmo eu. Como se isso não fosse possível, como se aspirasse a uma quebra, a uma ruptura.

Claro que se estou aqui é porque me sinto só. Ou antes, e para manter uma certa coerência, porque não tenho vontade de fugir mais ou de me esquecer dos meus sentimentos como se estivessem afastados de vez ou como se, subitamente, se tivessem tornado simplesmente irrelevantes por ocorrência de força maior.

Há muito que tenho de reavaliar. E se chegar às mesmas conclusões, não tenho exactamente de me lamentar pela falta de mudança ou passo. Será assim mesmo. De volta, pois.