Tempo de Solidão

"Tempo de solidão, tempo de exílio."

sexta-feira, novembro 26, 2004

Nada há de nobre na solidão

De um modo geral, acho que tenho sorte em relação aos meus amigos. São, na sua maioria, pessoas muito inteligentes e plenas de sentido de humor, pessoas cujas falhas estou mais que disposto a perdoar em troca dos bons momentos que passamos juntos. Dadas as circunstâncias, são realmente as melhores pessoas que eu poderia vir a conhecer.

No entanto, não me consigo sentir bem a seu lado. Sinto que somos muito diferentes, mas por outro lado tenho medo de levar esse raciocínio até às últimas consequências. Tenho receio de me começar a considerar um ser diferente e, portanto, superior. Sabe Deus que nada está mais longe da verdade, mas sou muito fraco de espírito e posso nem sempre resistir à tentação de justificar a minha solidão com a minha falsa superioridade. De resto, tenho medo de descobrir que afinal nem há assim tanto que me une aos meus conhecidos. Tenho medo de descobrir que não vale a pena continuar a tentar encontrar o meu nicho social.

No entanto, parece que é isso que devo fazer. Torna-se cada vez mais óbvio que não há muitas pessoas que me compreendem ou conseguem ver para além dos meus gestos dissimulados e emoções reprimidas. Ocasionalmente, há uma menção ou uma palavra curiosa, mas ela logo tomba no silêncio. Se fazem reparos à minha mágoa nos poucos dias em que não a consigo esconder é por mera educação. Sim, sim, noblesse oblige. Obrigado por nada.

Agora que penso nisso, também converso pouco com eles. Sim, há muitos monólogos dialogados, mas nada mais.

E depois penso, o problema deve ser meu. Conheço pessoas tão simpáticas, bondosas e interessantes, porque não me consigo sentir confortável com o seu convívio? A culpa deve ser minha, estou certo.

Nem sei muito bem porque estou a escrever tudo isto. Provavelmente porque ontem eles conseguiram-me arrastar para mais uma noite de farra e paródia. A sua companhia era leve, e mesmo a longa noitada de agitação foi invulgarmente agradável. No entanto, algo não batia certo. Estava com eles, mas sem estar. Muito provavelmente devo ter parecido muito alegre. É sempre assim. Todavia, nenhum deles conseguiu ver que eu estava apenas a testar-me e a testá-los. Que eu queria perceber o que me prendia à convicção de que valia a pena fingir que estava bem a seu lado. E ninguém percebia que os meus pensamentos e emoções mais profundas estavam noutro sítio qualquer, muito longe dali. Ninguém percebeu que a única razão pela qual eu estava ali era apenas porque eu sinto a necessidade de combater a toda a hora o medo de ficar sozinho e acabar os meus tristes dias numa tão negra e inglória reclusão.

Que dilema. Odeio sentir-me envolto no frio manto da solidão, mas não consigo encontrar repouso e tranquilidade na companhia daqueles que mais estimo. Já nem sequer consigo fingi-lo.

2 Comments:

At 11:13 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Olá Vincent.

Espero que esteja tudo bem contigo.
sabes um dos grandes motivos que me leva a desabafar contigo, é porque identifico-me bastante com as tuas palavras. Este texto parece que foi escrito para mim, a sério. só que eu já ñ sou como tu porque não luto contra a solidão.
já escrevi um e-mail~p/ ti.

um beijo

Carla

 
At 8:41 da manhã, Anonymous Anónimo said...

...construimos templos dentro de nós que veneramos...o culto da solidão nem sempre é um silencio escolhido ...mas existem momentos de silencio falante que faz de nós um Deus mesmo que seja apenas no nosso templo... beijinho
Sónia
www.lbutterfly.blogs.sapo.pt

 

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