Sonolência
A monotonia...
Que maçada ter de sofrer com toda esta monotonia. É um paradoxo insondável da minha pessoa, que eu tenha de sentir tanto e todavia padecer de profundos acessos de tédio. A tristeza por vezes acirra a veia poética em algumas pessoas, Outras desdobram-se em actividades quando a mágoa as visita. Eu fico quieto, muito quieto, com a cabeça a doer, com a alma dorida de tanta coisa.
E apetece-me dizer tanto, escrever tanto... Apetece-me usar o meu sentimento para alguma coisa, nem que seja para mim mesmo. Mas nada consigo alcançar. Vejo os dias correrem à minha frente como a àgua que desliza musicalmente num ribeiro veloz. Fico encantado com o som da passagem, confundo-o com evolução e mudança. Mas não sei o que fazer com o meu tempo. Tenho tanto tempo, e mesmo assim nunca tenho horas suficientes para o que quero.
Será possível ficar-se deprimido por causa de uma depressão? Não paro de achar novos lados e facetas deste odioso eu; descubro agora que tenho a patética capacidade de me entorpecer com o entorpecimento. Estou triste em consequência de ter estado triste. Sinto-me magoado para além do que a minha mágoa me inflige.
Mesmo esta página é um reflexo do meu tédio incompreendido. A cada minuto penso em coisas que poderia tentar verter em palavras e colocar aqui, se fosse caso para isso e se o conteúdo fosse adequado. No entanto, deixo semanas entre os meus fracos textos, dias e dias entre meras criações tecladas à pressa com a cabeça vazia e a alma cheia.
A mágoa tolda-me todos os movimentos, bloqueia-me toda a iniciativa. Fico preso num mundo cinzento, num lugar sedutor e quente que me sussurra suavemente ao ouvido para me deixar adormecer, para esquecer e entregar-me indolentemente aos dias que passam. E eu cedo, acabo por reduzir-me à nulidade daquele que posso ser. Tudo sinto e nada faço, e com isso me entristeço. Mudar é uma anedota; falta-me um estímulo exterior. Estou demasiado desligado de tudo e de todos na minha vida para poder encontrar uma razão que me faça acarinhar cada dia como um belo dia. Falta-me algo para que o despertador toque todas as manhãs e eu não deseje poder desaparecer para sempre assim que me apercebo de mais uma jornada que se inicia. Nem é medo da vida, é tédio da vida.
Não gosto de mim. Não gosto desta irreconhecida assunção de derrota. Devo sentir que já não há mais nada a fazer e que devo desistir. Mas não quero fazê-lo. Não está na minha natureza amar a monotonia, não me corre no sangue a paixão ou o conforto pela conformidade e pela resignação. Não gosto de perder tempo, e muito menos de sentir que o estou a perder. Fico doente, mesmo, quando sinto as fugazes horas a escaparem-se por entre os meus dedos à medida que suspiro e anseio e me perco e fujo de todas as coisas tristes na minha vida.
Mas enfim...
Acta est fabula? Infelizmente, temo que ainda nem tenha começado...
3 Comments:
Não sei que dizer, Myryan.. Obrigado, do fundo do meu coração, obrigado. E o que disseste podia tê-lo eu dito a propósito das tuas palavras, sabes?
Fico feliz por alguém compreender um pouco daquilo que eu procuro exprimir. Isso conta imenso, isso é a razão pela qual eu tenho blogs, provavelmente.
Um terno abraço :o*
Também ando pelos mesmos caminhos e partilho ideias contigo. Se te ajudar vai ler meu blogue e podes ver que no mundo existem mais pessoas a passar pelo mesmo. (http://www.imagensdaminhamente.blogs.sapo.pt)
Força.
Como te entendo!
Como me revejo nestas frases.
Espero poder ler mais e ver-te melhor.
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