Tempo de Solidão

"Tempo de solidão, tempo de exílio."

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Inverno

Tenho de arredar esta noção de que sou a pessoa mais indicada para ela. Não sou. Nunca fui. Sempre procurei pensar isso mas afinal de contas, no fundo, bem no fundo, havia qualquer coisa que me individualizava como alguém especial, uma pessoa que a poderia fazer feliz noutras circunstâncias, mais do que ninguém. Uma esperança, talvez um réstia de auto-estima, uma pequenina doce voz que ainda me deixava acreditar em mim e no amor.

Isso é a maior mentira com que me embriaguei durante o último ano. Talvez a maior das mentiras que já usei para me convencer de alguma coisa. E o que mais me assusta é que foi uma mentira inconsciente, uma coisa que eu não consegui controlar. Uma mentira com vontade própria e que, olhando para o meu sofrimento, assumia a compaixão de me consolar.

Sofrer é fácil. É difícil, mas é fácil. Pode haver sempre um consolo em acharmo-nos dignos da solidão e da tristeza por sermos aquilo que somos. Mesmo que eu ame alguém no escuro, alguém sem resposta e sem consciência do meu amor, mesmo que eu sofra e definhe com a solidão que nunca me deixará, pelo menos posso contentar-me pela medida da minha paixão. Posso elencar as formas como a amo, posso descrever os limites insondáveis do meu amor e posso até acreditar que ela, noutras circunstâncias, sentiria por mim o mesmo. Que me devotaria o seu amor por inteiro, na mesma medida e proporção com que eu o faço todos os dias e ela nunca percebe.

Mas isso não é verdade, minha querida, sabemos bem que isso não é verdade. Eu não sou para ti e, se fosse, não te completaria. Nunca mo disseste, mas eu percebo-o na sombra das tuas palavras, leio-o nos teus olhos distantes, compreendo-te. Eu amo-te, como poderia deixar de te compreender tão bem? Foste feita para mim, minha querida, mas eu estou longe de poder ser aquele que mais amarás. Não podemos existir, é verdade...

Desde que me apaixonei que não sinto nada de tão devastador. É um sentimento mais atroz do que o desgosto que transporto em mim constantemente. Falsas esperanças e falsos sentimentos vão e vêem, mas agora sei, sei mesmo, tenho a certeza que ela nunca me amará, e que a minha felicidade, mais uma vez, fica um passo mais distante de mim. É terrível quando a única grande certeza que se possui na vida é uma segurança destas. É tudo o que eu sei agora, é tudo com que posso contar.

Ai, como e quando acabará tudo isto? O que se seguirá no meu mar de tormentas? Estou tão dorido, tão farto, tão triste. Já nem sei se quero amar.

4 Comments:

At 5:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

sabes, és uma amor, um doce de pessoa... tenho a certeza que vais ser feliz simplesmente porque mereces. acho que devias tentar afastar-te dela, dar menos atenção aos seus "caprichos", vais ver que algo poderá acontecer, negativo ou positivo, mas o que interessa é que vais ultrapassar todo esse tormento que sufoca a tua alma. quem sou eu para dar conselhos? ainda há pouco andava super confusa. mas não custa tentar. muita força Vincent. um beijo pa ti desta miga virtual Carla

 
At 5:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

sabes, és uma amor, um doce de pessoa... tenho a certeza que vais ser feliz simplesmente porque mereces. acho que devias tentar afastar-te dela, dar menos atenção aos seus "caprichos", vais ver que algo poderá acontecer, negativo ou positivo, mas o que interessa é que vais ultrapassar todo esse tormento que sufoca a tua alma. quem sou eu para dar conselhos? ainda há pouco andava super confusa. mas não custa tentar. muita força Vincent. um beijo pa ti desta miga virtual Carla

 
At 11:23 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Parece que estou a ler os meus próprios artigos. Existem muitas vidas paralelas a viver o mesmo. O mundo ser pequeno e redondo já eu sabia, haver pessoas diferentes a viver vidas parecidas é mais dificil de descobrir. O mundo dos blogues mostra que afinal existem problemas/vidas parecidos.

 
At 11:46 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Oi, sabes? Também eu amei, sofri...e chorei. Sempre por amor!
quanta ingratidão!
Lendo os teu poemas revejo-me um pouco neles, também sou assim!
Escreve sempre, não te envergonhes de dizer o que te vai na alma, porque vergonha mesmo é não sentir nada!
beijo a tania

 

Enviar um comentário

<< Home