Todas as manhãs do mundo
Tudo o que eu tenho de fazer é subir aquelas escadas.
De seguida, aproximo-me e dirijo-lhe a palavra, munido de certa razão imaginada. Um plano, um pretexto, não me interessa muito. Mas claro que há fundamento, vontade de ajudar. Nem no impulso consigo ser verdadeiramente irracional.
Credo, estou tão nervoso, nem acredito que as minhas mãos tremem tanto... Ela vai perceber... Já percebeu. Um sorriso envergonhado.. não.. ela é assim mesmo... um embaraço que não é mais do que recato. É o seu encanto. Como adoro o seu sorriso, sempre tão escondido e dissimulado e no entanto simplesmente tão genuíno e feliz. Linda, brilhante.
E não estou preocupado que ela me leia como um livro aberto; a solidão não existe neste momento. É a última coisa que me assola à medida que percorro o caminho de volta, em passo incerto e apressado, de coração e mente cheios. Começo a pensar como fui desajeitado, ridículo, inusitado, mesmo. Suponho que no fundo tudo não terá passado de mais um epísódio tão meu como as coisas que detesto em mim. Aposto que se me esforçar conseguirei odiar os meus actos e encontrar riquíssimas falhas nos meus comportamentos.
Volto a pensar como consigo ser tão desajeitado. Mas só consigo sorrir.
É que, não sendo mais nada, foi um começo.