Tempo de Solidão

"Tempo de solidão, tempo de exílio."

quinta-feira, julho 14, 2005

Tempo de Solidão

Eu tentei, querida, mas simplesmente não consigo. Acabou. Não sou capaz de ser o teu amor, não tenho forças para ser teu. Com toda a minha alma e vontade procurei mudar e mostrar-te como te amava. Falhei por completo.

Cheguei ao fim. Vivi e amei como podia, e no entanto só conheço a solidão. Nunca conhecia outra coisa. Estou só, estou magoado, estou ferido de tanto amor. Estou exactamente como comecei, mas com o peso na minha alma de todos os dias que passei contigo e te aprendi a amar cada vez mais. Estou igual a mim próprio. Aquele que estará sempre só.

Continuarei a amar-te. De cada vez que pensar em ti o meu coração encher-se-á de alegria imensa e de insondável tristeza, pois há muito que me esqueci da diferença entre esses dois lindos sentimentos. Invocar a tua memória e relembrar o teu carinho será amar-te mais um pouco. Nunca te deixarei. Nunca te magoarei. Nunca me esquecerei de ti. Nunca deixarei de ser a pessoa que sempre fui. E assim, nunca serei o teu amor. Nunca serei feliz.

Porque terei de sofrer assim? Estarei a pedir demais? Talvez tenha de me conformar à minha cinzenta vida e perceber aquilo que tenho de precioso. A felicidade não é senão uma medida de contentamento face a um oposto. Terei de me resignar em ser esse oposto e oferecer felicidade ao mundo por comparação.

Oh, querida, minha mais amada, minha razão de vida, perdoa-me por todas as palavras nunca ditas, pela pessoa que tentei ser e não consegui, por toda a felicidade e amor que não te consigo dar. Sou demasiado pequeno junto de ti e pensei que a minha desmesura de amor que por ti sinto poderia um dia vir a colmatar essa brecha de sentimentos. Querida, perdoa-me por aquilo que sou e nunca descobriste, pela ignorância e ingenuidade em que te deixo apenas porque não suportaria perder o pouco que de ti recebo.

Isto é uma assunção de derrota. Não vou ser feliz.

Tempo de solidão, tempo de exílio.

Boa noite.

E agora eu

Lágrimas, lágrimas... que bem me sabem passado tanto tempo...

Suaves.

Solidão, doce dor, conhecida mágoa. Volto a entregar-me a ti. Por favor guia os meus passos nesta minha negra caminhada. Apaziguem-me a alma, ofereçam-me santuário, dêem-me paz, por favor.

Amo-te

Ver as tuas lágrimas acordou em mim um sentimento de melancolia inefável. E eu amo-te, eu já te devia sentir... E sinto, sim. Mas isto foi impressivo demais. Alguém como tu jamais deveria sofrer assim. É um drama, é uma tragédia como eu nunca a senti...

Enquanto te apertava contra o meu peito e te sentia soluçar por entre os meus braços, quis proteger-te, quis ser alguém para ti. Queria poder fazer tudo para que um sorriso aflorasse, mais uma vez, nos teus lábios. Pessoas tão lindas como tu não devem chorar. Querida, não te percas, não tires as lições erradas daquilo que hoje vives. Nunca conheci ninguém como tu, por favor não desapareças.

Ao acariciar-te a face, procurando afastar as tuas lágrimas e oferecer-te algumas palavras de bondade, senti-me fraco, derrotado. Apertei o teu corpo, quente e suave, com mais força. Tanto amor e tão pouco poder. Tanto sentimento e tão pouco que posso fazer. Tanta ternura fechada no meu coração, à espera que a recebas, e tão pouco me pedes. Não me deixas amar-te, não sei amar-te. Acorda, querida.


(Não sei, não sei descrever a frustação que senti. Nem eu faço ideia do que sinto e da amplitude do meu amor. Não consigo guardar tudo no meu coração, quero amar, preciso de amar, preciso de amar-te. Sou incapaz de fechar tudo isto na minha alma, transbordo de paixão e sentimento. Assim é, pois, que que ganho um medo de amar, de oferecer demasiado de mim. Nunca me amarás desta forma, querida, não é possível...)

Adeus, meu amor...

Agora

E no entanto, tendo escrito isto, tenho plena consciência de que nada mudará.

Palavras vãs, ocas. Tudo o que sou. Não foram palavras que te confortaram quando precisaste. Não foram palavras que me deram a conhecer aquilo que sinto por ti. Não foram frases que me entristeceram quando me achei só, nem foram pensamentos a preencher a minha alma quanto senti, mais uma vez, medo da solidão.

Estou farto de palavras, e sobretudo de não as poder proferir. Nem aqui, nem comigo, sei ser honesto. Palavras que podiam servir para algo em pessoa diferente. Significados certos e concretos que eu não sei aproveitar.

Sou ridículo, mesmo. Tanta letrinha junta e tão pouco consolo retiro disso. Foi nisto que me transformei.

Situação

Hoje, no trabalho, ninguém estranhou eu estar tão calado. Ninguém fez caso quando o cinzento Vincent não soube dizer que dia era, quando ele se perdeu nas suas frases, quando ele fitava sem nexo e tempo o brilhante céu pintado de inocentes nuvens.

Depois de chegar a casa, notando o vazio e a ausência especialmente imponente de mais um dia na minha vida, recordei um certo texto que escrevi há uns tempos, em que notava a estranha tendência de me mostrar alegre e forte junto das outras pessoas sempre que na verdade a minha alma se atolava em profundas tristezas. Uma contradição nos seus próprios termos, eis o que sou. Uma pessoa assustada e cobarde, sem orgulho ou estima, mas que apesar de tudo se revela sempre incapaz de pedir ajuda.

Como é que isto aconteceu? Como me acho completamente só, sem um amigo, sem uma amiga, sem alguém que me ame?

Quero ser diferente, agora. Quero esquecer-me daquele que sou e apagar a minha vida. Sem me esquecer de ti, e sem perder o meu amor.

A hora é tardia, não o conseguirei...

Desejo-te

Quando estou contigo, odeio todas as outras pessoas, os momentos que nos roubam, a sua presença que me importuna. Sou egoísta, sou ávido e estou só: quero estar contigo, quero aproveitar todos os pequenos momentos a teu lado, a ligeira atenção que me ofereces, o sentido amor que me revelas. És tão preciosa que eu não sou capaz de sentir outra coisa, outro impulso. Desejo-te, querida, e fico profundamente magoado quando te afastas de mim.

Sou egoísta, claro que sim.

São pessoas a mais no meu amor.

Na verdade, nem poderia ser de outra forma. Nesta vida que levamos, a única forma de um de nós não sair magoado seria se nos amássemos. Se tu viveres longe de mim, a minha dor é intensa. Se eu te revelar o meu amor, sairás magoada. Eu já conheço a solidão, já acarto com toda a mágoa na nossa amizade. Que isso continue, pois...