Tempo de Solidão
Eu tentei, querida, mas simplesmente não consigo. Acabou. Não sou capaz de ser o teu amor, não tenho forças para ser teu. Com toda a minha alma e vontade procurei mudar e mostrar-te como te amava. Falhei por completo.
Cheguei ao fim. Vivi e amei como podia, e no entanto só conheço a solidão. Nunca conhecia outra coisa. Estou só, estou magoado, estou ferido de tanto amor. Estou exactamente como comecei, mas com o peso na minha alma de todos os dias que passei contigo e te aprendi a amar cada vez mais. Estou igual a mim próprio. Aquele que estará sempre só.
Continuarei a amar-te. De cada vez que pensar em ti o meu coração encher-se-á de alegria imensa e de insondável tristeza, pois há muito que me esqueci da diferença entre esses dois lindos sentimentos. Invocar a tua memória e relembrar o teu carinho será amar-te mais um pouco. Nunca te deixarei. Nunca te magoarei. Nunca me esquecerei de ti. Nunca deixarei de ser a pessoa que sempre fui. E assim, nunca serei o teu amor. Nunca serei feliz.
Porque terei de sofrer assim? Estarei a pedir demais? Talvez tenha de me conformar à minha cinzenta vida e perceber aquilo que tenho de precioso. A felicidade não é senão uma medida de contentamento face a um oposto. Terei de me resignar em ser esse oposto e oferecer felicidade ao mundo por comparação.
Oh, querida, minha mais amada, minha razão de vida, perdoa-me por todas as palavras nunca ditas, pela pessoa que tentei ser e não consegui, por toda a felicidade e amor que não te consigo dar. Sou demasiado pequeno junto de ti e pensei que a minha desmesura de amor que por ti sinto poderia um dia vir a colmatar essa brecha de sentimentos. Querida, perdoa-me por aquilo que sou e nunca descobriste, pela ignorância e ingenuidade em que te deixo apenas porque não suportaria perder o pouco que de ti recebo.
Isto é uma assunção de derrota. Não vou ser feliz.
Tempo de solidão, tempo de exílio.
Boa noite.